Embora a sexualidade, expressa de maneira regulada e orientada espiritualmente, seja apropriada para a maioria das pessoas, há exceções importantes. Todas as culturas têm práticas espirituais especiais que fornecem poderes incomuns. Uma dessas práticas é o celibato, que pode ajudar uma pessoa a desenvolver um amor forte, focalizado, para com todos os seres vivos. Os celibatários, em vez de ficarem limitados a um relacionamento, são capazes de oferecer amor profundo e preocupação por qualquer pessoa que entre em seu ambiente.
O princípio do celibato repousa no cerne de muitas religiões. O Novo Testamento, I Coríntios 7, ensina-nos que é melhor permanecer em celibato. Porém, esse mesmo capítulo nos diz que é preferível casar a arder de desejo. A ideia geral por trás do celibato é que temos que sentir um chamado específico para essa forma de vida, a tal ponto que podemos aprender a partir do conhecimento espiritual esotérico acerca de seu significado e prática.
Muitas técnicas estão disponíveis para nos permitir conservar a energia sexual para promover nosso avanço espiritual e serviço. Por exemplo, se a pessoa preserva muita energia vital contida mesmo em uma gota de sêmen e canaliza isso para cima, essa energia pode elevar a consciência dessa pessoa. Porém, uma palavra de prudência: homens e mulheres devem receber um “chamado” específico para uma forma de vida celibatária antes de se ocuparem em tais práticas. Além disso, eles devem ser cuidadosos para não praticar o celibato isolados, sem associações amorosas. Se eles forem viver sem um parceiro imediato, devem aprender a ver a todos como sua família e a cercarem-se de relações amorosas.
Na verdade, o celibato é muito raro e não o recomendamos à maioria das pessoas. Como regra geral, a sociedade requer famílias fortes, conscientes de Deus, e é por isso que a maioria das pessoas deve casar e criar filhos saudáveis, em vez de praticar o celibato. Mas todos devem entender que certos indivíduos escolhem um estilo de vida celibatário visando desenvolver poderes sobre-humanos para servirem os outros de maneira ainda mais dedicada e amorosa.
Ao mesmo tempo, nós temos que lembrar que nossa cultura superenfatiza o papel da sexualidade e que o amor não começa ou termina necessariamente com intercurso sexual. Isso não quer dizer que o sexo não possa ser parte de um relacionamento amoroso entre homem e mulher. É uma questão de manter um equilíbrio saudável entre a expressão sexual e os outros aspectos da vida. O ponto importante é que as pessoas não devem deixar escapar a experiência do amor mais elevado por estarem focalizando apenas o corpo físico.
Na presença de celibatário, geralmente experimentamos níveis intensos de vitalidade e amor. As pessoas genuinamente celibatárias têm uma áurea ao seu redor, porque possuem as poderosas energias da compaixão abnegada que elas compartilham livremente com os outros. Os sacerdotes no antigo Egito e outras civilizações antigas conheciam bem esse fato, e muitos praticantes na Índia moderna ainda o conhecem. O celibato permite que eles executem muitas proezas surpreendentes. Mahatma Gandhi foi um exemplo desse fenômeno; muito de sua força advinha do celibato.
Paradoxalmente, muitos celibatários são muito atraentes para os membros do sexo oposto. Isso é devido ao poderoso amor que eles podem irradiar. Não há nada de errado nisso; a atração é natural entre os sexos. Mas a responsabilidade do celibatário é ser completamente abnegado e totalmente preocupado com os outros. O verdadeiro celibatário tem uma união com os outros a partir do coração, e não a partir dos órgãos genitais.
Celibato Não É Negação
Quando devidamente compreendido e praticado, o celibato não é uma questão de sacrifício. É uma questão de amor. Os indivíduos que se tornam celibatários a fim de dedicar sua energia no serviço a Deus não experimentam o celibato como um sacrifício. A energia sexual deles se transforma em compaixão desprendida e devoção, que eles distribuem amplamente para todos com que se encontram. Eles primeiramente veem a si mesmos como servos de Deus e da sociedade, sempre procurando funcionar como canais de energias divinas para curar, orientar e encorajar os outros.
O celibato é adequado somente se o escolhemos livremente. Se tentamos suprir nosso desejo sexual sem tê-lo focalizado em uma direção diferente, podemos descobrir dentro de nós mesmos um grande falso ego, uma ira intensa ou tendências para sermos surpreendentemente destrutivos. Temos que aprender a redirecionar nossa energia sexual, em vez de negar sua existência ou esperar que ela desapareça. O falso celibato apenas se transforma em outra distorção anormal em nossa sexualidade, destruindo a nossa sociedade ainda mais. O celibato nunca deve ser uma questão de escapar de uma situação que não podemos enfrentar. Por exemplo, algumas pessoas se privam do contato com as pessoas do sexo oposto porque não são capazes de lidar com sua própria sexualidade. O remédio para essa situação é um autoconhecimento maior, não um escape. Tampouco deve o celibato ser ditado de fora. Quando isso acontece, podemos desenvolver comportamentos estranhos ou artificiais. A partir de uma perspectiva prática é fácil entender por que certas instituições religiosas impõem a prática do celibato a seus sacerdotes. Aqueles em posições de liderança podem facilmente explorar o sexo oposto. Sem alguma forma de restrição, um sacerdote em contato frequente com mulheres para tratar de assuntos confidenciais poderia facilmente sucumbir à tentação sexual. Mas, infelizmente, quando o celibato é imposto externamente, muitos sacerdotes geralmente anseiam pelo contato sexual e descobrem formas ilícitas de satisfazer seus desejos.
Toda ação está ligada ao nosso desejo de prazer, e o nosso desejo de prazer tem origem na energia sexual. Quando não estamos altamente sintonizados, buscamos satisfação na forma de exploração e satisfação egoísta. Assim, se carecemos do desejo genuíno de sermos celibatários – o que pode ser o caso, por exemplo, se outras pessoas nos impõem o celibato, se somos impotente, ou se tememos expressar nossa sexualidade –a prática do celibato pode ser prejudicial. Somente experimentaremos frustração e ira, porque estamos nos privando de prazeres pelos quais ansiamos longamente. Forçando-nos a sermos celibatários nessas condições, podemos estar nos violentando e, em última instância, violentando as outras pessoas. Não estamos experimentando “gosto superior”, mas somente trazendo mais sofrimento para o mundo.
A Renúncia Assume Várias Formas
O verdadeiro celibato, então, é uma forma de renúncia em nome de um bem mais elevado. Em vez de ser uma questão de negação ou fuga, a renúncia é uma questão do quanto nos fazemos disponíveis para o serviço a Deus. Para cada pessoa, a renúncia assume uma forma diferente, condizente com o desenvolvimento particular do indivíduo. Por exemplo, aqueles que estão acostumados com o alvoroço da vida comum podem achar difícil que a renúncia solicite que eles se retirem e se tranquilizem.
Mas para aqueles apegados a ficar sozinhos, a renúncia pode significar adotar mais envolvimentos, atividades e relacionamentos externos. O amor da solidão pode ser uma forma de satisfação dos sentidos – o que é uma fraqueza. As interações com os outros podem revelar que eles não estão tão desapegados do mundo quanto gostariam, porque o estilo de vida asceta tornou-se um “para-choque” para protegê-los de um comprometimento genuíno na vida.
Muitos yogis que se ocupam em meditação sob uma árvore, em uma caverna ou nas montanhas se despedaçariam caso tivessem que manter um contato diário com outras pessoas. Além disso, todos já ouvimos falar de swamis ou gurus que, após passarem anos nos Himalaias, começaram a fazer excursões de pregação pela Europa ou pelos Estados Unidos, onde, por fim, caíram de sua posição elevada e sucumbiram à tentação.
O teste verdadeiro da renúncia vem à medida em que nos deparamos com várias situações na vida cotidiana. Renúncia significa um comprometimento autêntico em servir o Senhor em vez de servimos a nós mesmos, sob todas as circunstâncias. Temos que proteger em nome do Senhor e, não nos vermos como proprietários de alguém ou alguma coisa. Contudo, a renúncia não quer dizer ser impessoal ou indiferente aos relacionamentos. Ao contrário, de fato, significa ser mais afetuoso, atencioso, compartilhar mais, ser mais consciente e protetor – não porque estejamos apegados à nossa própria satisfação, mas porque estamos fazendo uma oferenda ao Senhor. O que estamos renunciando é a ascendência do falso ego, que nos mantém aprisionados neste mundo material.
Colocando a Vida Material em Perspectiva
Em última análise, cada um de nós tem que aprender a ser livre, controlando os nossos sentidos e desejos dentro do confinamento imposto por este corpo físico neste mundo material. Quer sejamos celibatários, quer sexualmente ativos, devemos sempre nos conectar com algo mais elevado que irá nos orientar, proteger, animar e nos dar um sentimento de segurança. Os antigos ensinamentos védicos nos recordam, assim como muitas outras tradições, de que todos os mundos, materiais e espirituais, têm a sua origem em Deus. Assim, se tentamos satisfazê-lO, estamos automaticamente em contato com o núcleo de tudo. Desta forma, o que quer que precisemos virá naturalmente para nós.
Infelizmente, a maioria de nós ignora esse fato e ruma na direção errada. Em vez de melhorarmos nosso relacionamento com Deus, passamos a maior parte de nosso tempo tentando satisfazer os nossos desejos superiores. A sexualidade, se mal compreendida, pode ser uma armadilha para que sejamos mantidos presos ao mundo material. Certamente temos que prestar atenção ao corpo para que funcione de maneira eficaz. Mas se nossa prioridade é a satisfação dos sentidos e a satisfação própria, acima de tudo, teremos de ficar retornando a este mundo físico para participar dos jogos sensuais e materiais inúmeras vezes. Por outro lado, se a vida espiritual é o nosso compromisso, então as nossas experiências neste mundo não serão um fim em si mesmas, mas indicações mostrando o caminho de volta à morada de Deus.
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sobre krishna
O que os ocidentais consideram o mais espantoso acerca da revelação de Deus como Krishna é Krishna ser possuidor de uma forma similar à forma humana. Eles julgam difícil acreditar que se trata de uma concepção avançada de Deus, uma vez que foram ensinados que Deus é um espírito amorfo e destituído de atributos, e, deste modo, tomam Krishna como uma fantasia antropomórfica. Ademais, eles veem que Krishna diverte-Se como um vaqueirinho belo e jovial rodeado por uma comunidade simples e pastoril de parentes e amigos. Onde, então, está o poder e a majestade peculiares a Deus? Onde está o controlador do cosmo, o soberano juiz dos vivos e dos mortos? Como um vaqueirinho simples e encantador pode inspirar o medo que cabe a nós criaturas sentirmos perante Deus?
Certamente a primeira lição em religião é apreciar a grandeza infinita de Deus e compreender que somos apenas Suas criaturas infinitesimalmente pequenas. Infelizmente, essa lição nos pode ser muito difícil de aprender, dado que viemos a este mundo material em rebelião contra Deus. Não queremos permanecer subordinados a Deus. Aqueles que são os mais invejosos de Deus negam-Lhe a existência. Existem outros que reconhecem a grandeza de Deus, muito embora a tendência a serem independentes permaneça em seus corações. Sua carência de completa rendição a Deus é demonstrada por sua fidelidade a uma religião materialmente motivada, e Deus revela-Se àqueles em tal estágio primário de avanço espiritual apenas em Seu poder e majestade. Embora possam saber em teoria que Deus é uma pessoa, Deus mantém Seus atributos pessoais ocultos de tais indivíduos. Ele permanece reservado, inescrutável, inacessível. Deste modo, Deus exige o devido respeito e veneração da parte daqueles que ainda têm a inclinação a desobedecer-Lhe.
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Também é parte da grandeza de Deus o fato de Ele Se permitir relacionamentos mais íntimos e familiares.
Contudo, também é parte da grandeza de Deus o fato de Ele Se permitir relacionamentos mais íntimos e familiares com aqueles devotos que se tornaram completamente puros de coração e que O servem unicamente pela motivação do amor, sem nenhuma expectativa de algo em troca. A eles, Ele revela Sua forma pessoal suprema. Uma vez que essa forma se assemelha à nossa, os ignorantes chamá-la-ão de antropomórfica, mas a verdade é que o nosso corpo humano é teomórfico. Somos feitos à imagem de Deus. Naturalmente, a nossa cópia do corpo de Deus é uma réplica temporária e material, ao passo que o corpo de Deus é espiritual e eterno. Especuladores talvez julguem que um corpo é algo ruim e, deste modo, neguem que Deus possua forma. Todavia, apenas uma forma material que adoece e que se subordina à velhice e à morte deveria ser rejeitada. O corpo eterno e sempre jovial de Krishna não se sujeita a tais condições. Rejeitar a forma de Deus pelo pressuposto de que, se Deus possuísse um corpo, este seria material como o nosso é ser culpado de antropomorfismo.
Krishna é relutante em relação a Se revelar a todos, pois Krishna deixa de lado toda soberania e atributos de dominação, permite que Sua beleza supere completamente Sua majestade e simplesmente Se ocupa em desenvolver passatempos de amor com Seus devotos. A fim de facilitar relacionamentos íntimos, Krishna faz com que Seus devotos Se esqueçam de que o belo, primoroso e encantador objeto de seu amor é Deus. Deste modo, Ele reside em Sua morada eterna, atuando como um simples vaqueirinho e sempre ampliando a infindável bem-aventurança de Seus devotos.
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A fim de facilitar relacionamentos íntimos, Krishna faz com que Seus devotos Se esqueçam de que o belo, primoroso e encantador objeto de seu amor é Deus.
Devotos puros apreciam sobretudo esse aspecto confidencial e todo-atrativo de Deus, mas outros, vendo Krishna em Sua forma humana, reagem de modo diferente. Krishna menciona isso no Bhagavad-gita (9.11): “Os tolos zombam de Mim quando advenho nesta forma humana. Eles desconhecem Minha natureza transcendental e Meu supremo domínio sobre tudo o que existe”. Por inveja, declararão que Krishna é um ser humano comum ou que os seres humanos comuns são Deus.
A despeito deste perigo, Krishna adveio a este planeta cinco mil anos atrás, trazendo conSigo Seus companheiros eternos, e, por algum tempo, exibiu Seus passatempos mais confidenciais e íntimos na localidade conhecida como Gokula Vrindavana. Mais do que qualquer outra coisa, Deus quer que as almas caídas a sofrerem no mundo material voltem a Ele, em virtude do que Ele decidiu mostrar a insuperável doçura das ilimitadamente variadas relações amorosas que Ele e Seus devotos desfrutam interminavelmente em Sua morada suprema. O mundo já conhecia Deus como aquele que tudo pode e tudo sabe; agora o mundo O conheceria como o todo-atrativo.
Devotos eruditos estudaram cuidadosamente esses passatempos de Krishna, tal como estão registrados no Srimad-Bhagavatam e outros textos, e descobriram cinco principais tipos de relações que os devotos têm com Deus. Cada uma de tais relações possui um gosto particular que é saboreado pelo devoto. Em sânscrito, esse gosto se chama rasa. As cinco principais rasas, listadas em ordem de crescente intimidade, são adoração passiva, servidão, amor fraternal, amor parental e amor conjugal.
Na rasa de adoração passiva, ou de neutralidade, o devoto é tão esmagadoramente consciente da grandeza de Deus que tudo do que ele é capaz é adorá-lO passivamente. O devoto não sente ímpeto algum em prestar serviço, porque ele julga que, tamanha a grandeza de Deus, inexiste algo que possa fazer por Ele. A descrição de Dante da visão beatífica como produtora de atordoamento e arrebatadora admiração perante Deus sugere que a neutralidade é a mais elevada concepção do autor acerca de um relacionamento com Deus. Na rasa de servo, também há os sentimentos próprios da subordinação, mas estes não se apresentam extremados o suficiente para impedir que o devoto sirva ativamente o seu Senhor. Na rasa fraternal, o devoto se associa com Krishna em um nível de igualdade, como um amigo da mesma idade e do mesmo sexo. Na rasa parental, por sua vez, Krishna desfruta ter Seu devoto agindo como Seu superior. Krishna Se torna o filho, e Seu devoto O ama e O serve na posição de Sua mãe ou de Seu pai. Por fim, a rasa mais íntima é o amor conjugal, na qual o devoto trata Krishna como esposo ou amante.
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Na rasa parental, Krishna Se torna o filho, e Seu devoto O ama e O serve na posição de Sua mãe ou de Seu pai.
Assim como o corpo de Krishna é o protótipo de nosso corpo material, o mesmo se dá com os relacionamentos transcendentais de Krishna, os quais são os protótipos dos relacionamentos materiais, estes sendo reflexos pervertidos dos relacionamentos originais. Coerentemente, não devemos projetar a qualidade dos relacionamentos materiais nas rasas espirituais. A sublime troca de emoções extáticas nos corpos espirituais que acontece entre Krishna e as vaqueirinhas de Vrindavana não pode ser comparada aos atributos grosseiros do sexo material. Ademais, os relacionamentos com Krishna no mundo espiritual jamais se desgastam ou findam, como acontece com os relacionamentos neste mundo. No mundo espiritual, todas as rasas continuam eternamente.
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Os relacionamentos com Krishna no mundo espiritual jamais se desgastam ou findam.
Aqui no mundo material, encontramos reflexos desses relacionamentos, e, porque temos sempre o interesse em saborear rasas, constantemente entramos em relacionamentos e tentamos perpetuá-los. O problema com o qual nos deparamos, no entanto, é que não encontramos a satisfação pela qual buscamos – inevitavelmente nos desapontamos, pois todas as rasas no mundo material são eclipsadas. Aqui, tudo é mutável, instável e temporário. Estabelecemos relacionamentos com nossos heróis, nossos amigos, nossos filhos e nossos amantes ou cônjuges, e iniciamos com enorme esperança e imensas expectativas. Todos nós nos lembramos – pesarosamente – daquela intoxicante promessa de interminável amor que nossa primeira paixão adolescente nos trouxe. E o que pode se comparar à ilimitada esperança que uma mulher sente quando ela pela primeira vez segura em seus braços seu bebê recém-nascido? Contudo, nenhum desses relacionamentos outorga o que prometem. À medida que envelhecemos, tornamo-nos “maduros” aprendendo como viver com rasas mortas, relacionamentos fracassados, corações partidos. E uma vez que eu descubra que meu herói possui pés de barro, ou que meu melhor amigo traiu minha confiança, ou quando eu vir aquele que um dia foi o homem ou a mulher mais doce de meus sonhos olhando para mim diante de um juiz com o ódio de um assassino ou caso eu me coloque diante da pequena cova de meu filho, ser-me-á difícil, ou mesmo impossível, amar como um dia pensei que poderia.
A nossa propensão a amar naturalmente tende a se expandir sem limites. Neste mundo, porém, ela se encontra com repetidos impedimentos. A frustração de nosso anseio por amar se torna um dos atributos mais trágicos da vida. O ponto crucial do problema é que, embora queiramos amar, inexiste outra situação em que fiquemos tão vulneráveis como quando o fazemos. Tão logo amemos alguém, abrimo-nos para rejeição, traição, separação, perda e toda sorte de angústias e dores decorrentes. A experiência de tais coisas encheu o mundo de pessoas amarguradas e desapontadas, pessoas cínicas e misantrópicas.
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Neste mundo, nossa propensão a amar se encontra com repetidos impedimentos.
Contudo, mesmo antes de termos sofrido as dores do amor frustrado, somos incapazes de amar inteira e incondicionalmente. Existe uma incompatibilidade essencial entre o que somos e o que podemos amar neste mundo, e, em nossos corações, sabemos disso. O nosso desejo de amar sem limites e sem fim é uma clara indicação de que somos por excelência seres espirituais eternos. Ao mesmo tempo, o que quer que possamos amar neste mundo é temporário e material. Consequentemente, não podemos amar sem medo, e, consciente ou inconscientemente, desde o começo vemo-nos forçados a conter o investimento de nosso amor.
Um tema frequente na literatura mundial diz respeito a um herói ou a uma heroína que ama sem medidas e sem restrições, inevitavelmente é submetido ou submetida à mais intensa sorte de sofrimento e, por fim, encontra-se com uma morte trágica ou lamentável. Podemos aceitar estas histórias como contos acauteladores. No entanto, sem dúvidas, não precisamos deles para nos lembrarem da constante frustração de nosso ser. Inexiste um objeto adequado para o nosso amor neste mundo.
Portanto, por infinita compaixão por nós, Krishna revela Seu reino de transcendental e irrestrito amor, no qual Ele está eternamente manifesto como o derradeiro objeto da afeição – o mais perfeito herói, mestre, amigo, filho e amante. Sua beleza é irrivalizável, e Sua personalidade, expressa em trocas amorosas infinitamente variadas, é incessantemente fascinante. Quando nos voltamos a Krishna, nossa propensão amorosa por fim encontra destemor, liberta-se dos confins da matéria e se permite fluir de maneira sempre expansiva e livre de todo obstáculo. Eis por que Krishna está perpetuamente nos convidando a voltar para Ele em Sua morada eterna e desfrutar com Ele para sempre os deleites de um amor interminável.
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