sobre krishna

Krishna, a forma pessoal e supremamente atrativa de Deus.

O que os ocidentais consideram o mais espantoso acerca da revelação de Deus como Krishna é Krishna ser possuidor de uma forma similar à forma humana. Eles julgam difícil acreditar que se trata de uma concepção avançada de Deus, uma vez que foram ensinados que Deus é um espírito amorfo e destituído de atributos, e, deste modo, tomam Krishna como uma fantasia antropomórfica. Ademais, eles veem que Krishna diverte-Se como um vaqueirinho belo e jovial rodeado por uma comunidade simples e pastoril de parentes e amigos. Onde, então, está o poder e a majestade peculiares a Deus? Onde está o controlador do cosmo, o soberano juiz dos vivos e dos mortos? Como um vaqueirinho simples e encantador pode inspirar o medo que cabe a nós criaturas sentirmos perante Deus?

Certamente a primeira lição em religião é apreciar a grandeza infinita de Deus e compreender que somos apenas Suas criaturas infinitesimalmente pequenas. Infelizmente, essa lição nos pode ser muito difícil de aprender, dado que viemos a este mundo material em rebelião contra Deus. Não queremos permanecer subordinados a Deus. Aqueles que são os mais invejosos de Deus negam-Lhe a existência. Existem outros que reconhecem a grandeza de Deus, muito embora a tendência a serem independentes permaneça em seus corações. Sua carência de completa rendição a Deus é demonstrada por sua fidelidade a uma religião materialmente motivada, e Deus revela-Se àqueles em tal estágio primário de avanço espiritual apenas em Seu poder e majestade. Embora possam saber em teoria que Deus é uma pessoa, Deus mantém Seus atributos pessoais ocultos de tais indivíduos. Ele permanece reservado, inescrutável, inacessível. Deste modo, Deus exige o devido respeito e veneração da parte daqueles que ainda têm a inclinação a desobedecer-Lhe.

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Também é parte da grandeza de Deus o fato de Ele Se permitir relacionamentos mais íntimos e familiares.

Contudo, também é parte da grandeza de Deus o fato de Ele Se permitir relacionamentos mais íntimos e familiares com aqueles devotos que se tornaram completamente puros de coração e que O servem unicamente pela motivação do amor, sem nenhuma expectativa de algo em troca. A eles, Ele revela Sua forma pessoal suprema. Uma vez que essa forma se assemelha à nossa, os ignorantes chamá-la-ão de antropomórfica, mas a verdade é que o nosso corpo humano é teomórfico. Somos feitos à imagem de Deus. Naturalmente, a nossa cópia do corpo de Deus é uma réplica temporária e material, ao passo que o corpo de Deus é espiritual e eterno. Especuladores talvez julguem que um corpo é algo ruim e, deste modo, neguem que Deus possua forma. Todavia, apenas uma forma material que adoece e que se subordina à velhice e à morte deveria ser rejeitada. O corpo eterno e sempre jovial de Krishna não se sujeita a tais condições. Rejeitar a forma de Deus pelo pressuposto de que, se Deus possuísse um corpo, este seria material como o nosso é ser culpado de antropomorfismo.

Krishna é relutante em relação a Se revelar a todos, pois Krishna deixa de lado toda soberania e atributos de dominação, permite que Sua beleza supere completamente Sua majestade e simplesmente Se ocupa em desenvolver passatempos de amor com Seus devotos. A fim de facilitar relacionamentos íntimos, Krishna faz com que Seus devotos Se esqueçam de que o belo, primoroso e encantador objeto de seu amor é Deus. Deste modo, Ele reside em Sua morada eterna, atuando como um simples vaqueirinho e sempre ampliando a infindável bem-aventurança de Seus devotos.

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A fim de facilitar relacionamentos íntimos, Krishna faz com que Seus devotos Se esqueçam de que o belo, primoroso e encantador objeto de seu amor é Deus.

Devotos puros apreciam sobretudo esse aspecto confidencial e todo-atrativo de Deus, mas outros, vendo Krishna em Sua forma humana, reagem de modo diferente. Krishna menciona isso no Bhagavad-gita (9.11): “Os tolos zombam de Mim quando advenho nesta forma humana. Eles desconhecem Minha natureza transcendental e Meu supremo domínio sobre tudo o que existe”. Por inveja, declararão que Krishna é um ser humano comum ou que os seres humanos comuns são Deus.

A despeito deste perigo, Krishna adveio a este planeta cinco mil anos atrás, trazendo conSigo Seus companheiros eternos, e, por algum tempo, exibiu Seus passatempos mais confidenciais e íntimos na localidade conhecida como Gokula Vrindavana. Mais do que qualquer outra coisa, Deus quer que as almas caídas a sofrerem no mundo material voltem a Ele, em virtude do que Ele decidiu mostrar a insuperável doçura das ilimitadamente variadas relações amorosas que Ele e Seus devotos desfrutam interminavelmente em Sua morada suprema. O mundo já conhecia Deus como aquele que tudo pode e tudo sabe; agora o mundo O conheceria como o todo-atrativo.

Devotos eruditos estudaram cuidadosamente esses passatempos de Krishna, tal como estão registrados no Srimad-Bhagavatam e outros textos, e descobriram cinco principais tipos de relações que os devotos têm com Deus. Cada uma de tais relações possui um gosto particular que é saboreado pelo devoto. Em sânscrito, esse gosto se chama rasa. As cinco principais rasas, listadas em ordem de crescente intimidade, são adoração passiva, servidão, amor fraternal, amor parental e amor conjugal.

Na rasa de adoração passiva, ou de neutralidade, o devoto é tão esmagadoramente consciente da grandeza de Deus que tudo do que ele é capaz é adorá-lO passivamente. O devoto não sente ímpeto algum em prestar serviço, porque ele julga que, tamanha a grandeza de Deus, inexiste algo que possa fazer por Ele. A descrição de Dante da visão beatífica como produtora de atordoamento e arrebatadora admiração perante Deus sugere que a neutralidade é a mais elevada concepção do autor acerca de um relacionamento com Deus. Na rasa de servo, também há os sentimentos próprios da subordinação, mas estes não se apresentam extremados o suficiente para impedir que o devoto sirva ativamente o seu Senhor. Na rasa fraternal, o devoto se associa com Krishna em um nível de igualdade, como um amigo da mesma idade e do mesmo sexo. Na rasa parental, por sua vez, Krishna desfruta ter Seu devoto agindo como Seu superior. Krishna Se torna o filho, e Seu devoto O ama e O serve na posição de Sua mãe ou de Seu pai. Por fim, a rasa mais íntima é o amor conjugal, na qual o devoto trata Krishna como esposo ou amante.

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Na rasa parental, Krishna Se torna o filho, e Seu devoto O ama e O serve na posição de Sua mãe ou de Seu pai.

Assim como o corpo de Krishna é o protótipo de nosso corpo material, o mesmo se dá com os relacionamentos transcendentais de Krishna, os quais são os protótipos dos relacionamentos materiais, estes sendo reflexos pervertidos dos relacionamentos originais. Coerentemente, não devemos projetar a qualidade dos relacionamentos materiais nas rasas espirituais. A sublime troca de emoções extáticas nos corpos espirituais que acontece entre Krishna e as vaqueirinhas de Vrindavana não pode ser comparada aos atributos grosseiros do sexo material. Ademais, os relacionamentos com Krishna no mundo espiritual jamais se desgastam ou findam, como acontece com os relacionamentos neste mundo. No mundo espiritual, todas as rasas continuam eternamente.

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Os relacionamentos com Krishna no mundo espiritual jamais se desgastam ou findam.

Aqui no mundo material, encontramos reflexos desses relacionamentos, e, porque temos sempre o interesse em saborear rasas, constantemente entramos em relacionamentos e tentamos perpetuá-los. O problema com o qual nos deparamos, no entanto, é que não encontramos a satisfação pela qual buscamos – inevitavelmente nos desapontamos, pois todas as rasas no mundo material são eclipsadas. Aqui, tudo é mutável, instável e temporário. Estabelecemos relacionamentos com nossos heróis, nossos amigos, nossos filhos e nossos amantes ou cônjuges, e iniciamos com enorme esperança e imensas expectativas. Todos nós nos lembramos – pesarosamente – daquela intoxicante promessa de interminável amor que nossa primeira paixão adolescente nos trouxe. E o que pode se comparar à ilimitada esperança que uma mulher sente quando ela pela primeira vez segura em seus braços seu bebê recém-nascido? Contudo, nenhum desses relacionamentos outorga o que prometem. À medida que envelhecemos, tornamo-nos “maduros” aprendendo como viver com rasas mortas, relacionamentos fracassados, corações partidos. E uma vez que eu descubra que meu herói possui pés de barro, ou que meu melhor amigo traiu minha confiança, ou quando eu vir aquele que um dia foi o homem ou a mulher mais doce de meus sonhos olhando para mim diante de um juiz com o ódio de um assassino ou caso eu me coloque diante da pequena cova de meu filho, ser-me-á difícil, ou mesmo impossível, amar como um dia pensei que poderia.

A nossa propensão a amar naturalmente tende a se expandir sem limites. Neste mundo, porém, ela se encontra com repetidos impedimentos. A frustração de nosso anseio por amar se torna um dos atributos mais trágicos da vida. O ponto crucial do problema é que, embora queiramos amar, inexiste outra situação em que fiquemos tão vulneráveis como quando o fazemos. Tão logo amemos alguém, abrimo-nos para rejeição, traição, separação, perda e toda sorte de angústias e dores decorrentes. A experiência de tais coisas encheu o mundo de pessoas amarguradas e desapontadas, pessoas cínicas e misantrópicas.

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Neste mundo, nossa propensão a amar se encontra com repetidos impedimentos.

Contudo, mesmo antes de termos sofrido as dores do amor frustrado, somos incapazes de amar inteira e incondicionalmente. Existe uma incompatibilidade essencial entre o que somos e o que podemos amar neste mundo, e, em nossos corações, sabemos disso. O nosso desejo de amar sem limites e sem fim é uma clara indicação de que somos por excelência seres espirituais eternos. Ao mesmo tempo, o que quer que possamos amar neste mundo é temporário e material. Consequentemente, não podemos amar sem medo, e, consciente ou inconscientemente, desde o começo vemo-nos forçados a conter o investimento de nosso amor.

Um tema frequente na literatura mundial diz respeito a um herói ou a uma heroína que ama sem medidas e sem restrições, inevitavelmente é submetido ou submetida à mais intensa sorte de sofrimento e, por fim, encontra-se com uma morte trágica ou lamentável. Podemos aceitar estas histórias como contos acauteladores. No entanto, sem dúvidas, não precisamos deles para nos lembrarem da constante frustração de nosso ser. Inexiste um objeto adequado para o nosso amor neste mundo.

Portanto, por infinita compaixão por nós, Krishna revela Seu reino de transcendental e irrestrito amor, no qual Ele está eternamente manifesto como o derradeiro objeto da afeição – o mais perfeito herói, mestre, amigo, filho e amante. Sua beleza é irrivalizável, e Sua personalidade, expressa em trocas amorosas infinitamente variadas, é incessantemente fascinante. Quando nos voltamos a Krishna, nossa propensão amorosa por fim encontra destemor, liberta-se dos confins da matéria e se permite fluir de maneira sempre expansiva e livre de todo obstáculo. Eis por que Krishna está perpetuamente nos convidando a voltar para Ele em Sua morada eterna e desfrutar com Ele para sempre os deleites de um amor interminável.



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